A Emigração é um enorme potencial de participação política, de apoio e de resultados eleitorais.
Pode dizer-se que durante longos anos a Emigração não tem participado nos actos eleitorais portugueses. Os emigrantes não são eleitores. Não votam. Não têm expressão.É importante declarar tal facto, alto e bom som.
As razões são variadas, como já tem sido exposto, incluindo o desmotivador e distanciador facto de os deputados pelos círculos da Emigração não serem eles próprios emigrantes, mas antes profissionais da política que usam os círculos da emigração como trampolim para a AR.
De facto, os emigrantes não têm contado para nada nas escolhas políticas que Portugal faz para si. Os milhares de portugueses que andam pelo mundo inteiro, agora e desde há muitos anos,… é como se não existissem, como se fossem fantasmas invisíveis. Não contam.
Ora, fossemos nós marketeers e diríamos: “há aqui um enorme potencial de mercado a abrir…e sempre a abrir!!”
Pode dar muito bons frutos o investimento na comunicação eleitoral dirigida aos portugueses emigrados, sejam eles info-incluidos ou info-excluidos. Este investimento exige comunicação através das redes sociais usadas pelos emigrantes em paralelo com eventos locais de cariz temático e formativo. A acção política é isto mesmo: comunicação, activismo, formação, consciencialização, cidadania.
Crucial é também o investimento numa acção interna de lóbi na cena política para descomplicar a legislação que regula o recenseamento eleitoral no estrangeiro que não é automático para o cidadão português emigrante, discriminando-o em relação ao cidadão português que vive em Portugal, e cujos procedimentos são extremamente complicados, sobretudo quando o posto consular fica a 40, 80 ou mais kms de distância, ou quando não sabemos bem lidar com o portal do eleitor (o que não é de todo trivial)!
E ainda crucial é fazer-se uma auditoria à fiabilidade dos dados do recenseamento eleitoral nacional! Há seguramente 20 anos que os dados do recenseamento são inflacionados para o território nacional, sub-representando para os círculos internacionais.
Não há tanta gente a residir em Portugal e a efectivamente poder votar em Portugal, como indicam os cadernos eleitorais. Estimados em cerca de 300-400 mil eleitores (1), existem muitos portugueses a residir fora de Portugal e a votar em lugar nenhum! São os portugueses fantasmas, registados ainda nas juntas de freguesia onde já não vivem há 20 ou 30 anos, onde só vão 15 dias de férias.
Tais cadernos eleitorais nacionais têm consequências negativas para a democracia, para a validade dos referendos, e para a leitura que se costuma fazer do alheamento dos cidadãos, da abstenção eleitoral. Esta leitura oficial influencia e promove mais alheamento. Círculo vicioso, uma pescadinha-rabo-na-boca que se serve num bonito prato mas que é intragável. Gato por lebre.
Voltando aos bons frutos eleitorais da Emigração: lembremo-nos outra vez do exemplo das últimas eleições presidenciais na Roménia, no final de 2014, em que foram os emigrantes romenos que decidiram a escolha do actual Presidente Klaus Joannis. Apesar dos entraves administrativos que o governo romeno havia colocado à participação dos seus emigrantes no acto eleitoral, estes mobilizaram-se através das redes sociais, não desarmaram perante as dificuldades e passaram longas horas ao frio e à chuva para poderem votar no candidato mais progressista. E conseguiram! Joannis foi eleito na 2a volta, um exemplo de civismo e amor à terra, que gerou ânimo interno e ondas de solidariedade entre os romenos de dentro e de fora.
Em toda a Europa estamos a viver momentos de activismo e consciência políticos pouco comuns, ancorados na INCLUSÃO e no trabalho em rede. Os cidadãos suplantam as estruturas partidárias. Cada um de nós, português emigrante e/ou migrante, tem de estar ciente da importância do recenseamento, não apenas como “diploma” para podermos efectivar as nossas escolhas políticas, mas também como retrato estatístico da nossa realidade, e deve passar a palavra aos outros e assim contribuir para uma VAGA de massa crítica que, de fora, exercerá pressão em várias causas fundamentais para a sociedade portuguesa e para a sociedade europeia, desde logo com a melhoria da inclusão do cidadão emigrante na sociedade portuguesa.
Em 2015 e 2016 teremos eleições legislativas e presidenciais em Portugal. Enquanto Candidatura que somos devemos desaferrolhar este potencial de massa crítica com uma dedicação honesta e sincera, e não com pequenas acções de cirúrgia plástica, baseadas na análise custo-benefício e na melhor tradição do clássico sistema dos partidos políticos portugueses.
Há que aproveitar este momentum, agora, carpe diem, com as sinergias e os recursos de todos. Temos de ousar aproveitar este potencial, o nosso potencial como cidadãos.
(1) vide blogue luiscostacorreia, ex-director STAPE
Texto de: Lídia Martins e Ana Beleza