Israel vai hoje a votos e, sendo o resultado incerto, não há vencedores antecipados. Após apenas dois anos de governo, o ainda primeiro-ministro “Bibi” Netanyahu decidiu dissolver o seu governo em Dezembro por, alegadamente, não ter confiança nos seus parceiros de coligação. O sistema israelita praticamente impossibilita governos de um partido só, pelo que as coligações são uma necessidade. Se à data da demissão a reeleição parecia uma certeza, a criação da União Sionista – centro-esquerda e que junta o Partido Trabalhista ao Hatnuah, partido fundado em 2012 por Tzipi Livni (ex-Likud) – bem como a criação da Lista Conjunta que, pela primeira vez, junta todos os partidos árabes numa candidatura, veio alterar o jogo. No entanto, mais do que uma eleição entre esquerda e direita, o escrutínio de hoje parece ser entre “Bibi” e Rak lo Bibi (qualquer um que não Bibi).
As diferenças entre a esquerda e a direita israelita são, por vezes, ténues no que à política de construção de colonatos diz respeito. Apesar disso e com excepção feita aos partidos ultra-ordoxos, todas as alternativas a Netanyahu parecem dar mais garantias quanto a uma paz prolongada na região e, quem sabe, garantir uma solução estável. Bibi, numa desesperada declaração de última hora e na tentativa de ir buscar votos à ultra-direita, apressou-se a dizer que, com ele como primeiro-ministro, a Palestina não seria um Estado independente. Embora esta declaração não seja novidade e apesar da questão palestina ter sido secundarizada por Netanyahu em favor da questão do potencial nuclear iraniano, a pressão internacional pode obrigar o futuro primeiro-ministro, seja ele quem seja, a sentar-se à mesa para negociar seriamente o direito ao Estado palestino.
Nunca como hoje houve tanta pressão internacional no reconhecimento do Estado da Palestina. Em 2014, foram vários os Parlamentos Europeus a votar decisões a favor do reconhecimento deste Estado, tendo o governo sueco sido o primeiro após adesão à UE a reconhecer a Palestina como Estado. Os Estados Unidos, aliados de longa data de Israel, na pessoa do seu presidente Obama, mostram cada vez menos complacência para com a política expansionista e de construção de colunatos israelitas. A recente presença de Netanyahu no Congresso americano, à revelia do consentimento de Obama, foi a mais recente prova do estado de relações entre os dois, que se parece mais à relação entre rivais políticos que propriamente à relação entre estadistas.
A resolução dos problemas entre Israel e Palestina não está ao virar da esquina. Décadas de conflito e provocações mútuas têm vindo a afastar israelitas de palestinos, naquele que parece ser um conflito sem fim. A construção ilegal e desenfreada de colonatos não pode continuar e devem ser dados passos firmes, mesmo que curtos, na direcção de uma solução permanente, seja ela a de dois Estados independentes (de acordo com as fronteiras traçadas pelas Nações Unidas) ou de um Estado único, multi-étnico e multi-religioso. É um imperativo moral procurar uma solução para a questão palestina. Nós, como cidadãos europeus, temos o poder de pressionar os nossos governos de modo a que reconheçam o direito dos palestinianos. A Assembleia da República deu o primeiro passo nesse sentido, sigamos agora o caminho trilhado pelo governo sueco.