Discurso de introdução à conferência “Educação, democracia e desigualdades”

O seguinte texto corresponde ao discurso feito por Ana Mafalda Pernão, directora da Escola de Música do Conservatório Nacional, e que serviu de introdução à conferência “Educação, democracia e desigualdades”, organizada pela candidatura LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR no dia 21 de março.

Como anfitriã, não posso deixar de aproveitar a vossa presença para, mais uma vez, denunciar a situação a que sucessivos governos deixaram chegar o edifício do Conservatório Nacional, apesar de todo o trabalho que alunos, docentes e não docentes desenvolvem aqui diariamente.

A música, a arte e a cultura

  • este edifício é exemplo da falta de investimento na cultura, nas artes e na

educação artística em particular.

  • o ensino artístico foi sempre tratado, pela maioria dos decisores da política da

educação, como o parente pobre:

– porque nunca foi entendido por quem não o conhece

– porque é difícil quantificar o seu sucesso em dados quantitativos

– porque só muito recentemente foi estruturada a formação superior nessa área

– porque a sua prática pedagógica não encaixa numa estrutura espartilhada do ensino em geral, tal como este é hoje prática nas escolas básicas e secundárias.

– No entanto, cada vez mais se fala da grande importância que a prática artística deve ter na formação das crianças. Ouvimos notícias, lemos estudos, partilhamos conversas, sobre o contributo que a prática das artes, em especial da música, proporciona ao desenvolvimento das crianças, mesmo que não se especifique exatamente que aspetos em particular beneficiam da mesma.

 A EMCN

Nesta escola, que neste momento atravessa uma das etapas mais mediáticas de toda a sua história, já de 180 anos, debatemo-nos com um investimento cada vez mais diminuto, sem que isso corresponda a uma menor exigência na apresentação de resultados. Pelo contrário, nos últimos anos tem aumentado a qualidade da formação dos nossos jovens músicos.

No entanto, o espaço que habitamos tem salas onde se olha para o teto antes de entrar, para verificar que este não nos vai cair na cabeça, espaços de trabalho inexistentes, como seja sala de alunos, salas de atendimento de EE, espaços de estudo individual (porque os músicos são solitários na sua batalha diária de se superar a cada dia), este Salão, que todos os dias geme um pouco mais alto, enquanto as apresentações públicas decorrem, como prática formativa essencial na formação do músico.

Abandonar esta escola é renegar a cultura Nacional, os poetas, os compositores, o espetáculo, a arte. A cultura moderna em Portugal tem também aqui a sua história.

Esperamos que este percurso descendente, com o nosso contributo, possa ser travado ainda a tempo.

Citando António Ângelo Vasconcelos: “Hipotecar o presente é criar condições de impossibilidade na construção de novos imaginários e de uma sociedade democrática mais culta e plural.”

Agradeço, em nome da Escola de Música do Conservatório Nacional, a vossa presença e por trazerem até aqui a discussão sobre a educação em Portugal.

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