De Espanha, bons ventos e bons casamentos

Bons ventos

Mesmo tendo sido o partido mais votado a nível nacional, dificilmente se poderá dizer que o PP – partido no governo – tenha sido o vencedor da noite eleitoral espanhola de ontem. As eleições municipais e regionais vieram reforçar o previsto fim do bipartidarismo em Espanha e resultaram, em comparação com as últimas eleições do género, na perda de mais de três milhões de votos por parte do PP e do PSOE, tendo o primeiro sido particularmente castigado. A nível das comunidades autónomas, o PP perdeu todas as maiorias absolutas que tinha e, apesar de ter sido o partido mais votado em algumas, uma eventual coligação dos partidos e movimentos de esquerda poderia formar governo. O PSOE, mesmo sendo oposição, não conseguiu evitar a perda de votos a nível nacional, tendo no entanto conseguido um resultado que, segundo os próprios, é positivo. O bipartidarismo espanhol parece pois estar seriamente ameaçado. A ascensão do Podemos e do Ciudadanos, que se conseguem implantar em quase todo o território espanhol, são um sério sinal do que pode acontecer nas eleições gerais a ter lugar no final do ano. Curiosamente, a Izquierda Unida, que historicamente representou a oposição tanto ao PSOE como ao PP, bem como o UPyD, que se tenta colocar entre os dois principais partidos, acabam também por ser extremamente penalizados com o crescimento dos novos partidos. Estas eleições representaram um virar de página em Espanha, onde a esquerda sai reforçada e os partidos do centro são fortemente castigados. Não fora a marginal vitória de Esperanza Aguirre em Madrid e estas eleições teriam sido uma verdadeira derrota do PP.

Bons casamentos

Um aspeto incontornável nestas eleições são as várias coligações de esquerda formadas para tomar o poder. Partidos de esquerda e/ou regionalistas e vários movimentos da sociedade civil puseram de lado as suas diferenças e constituíram frentes em várias localidades e que tiveram, em geral, bons resultados. Em cidades como Madrid e Zaragoza estas coligações conseguiram excelentes resultados e podem vir a formar governo. Em Valência, uma eventual coligação entre vários partidos poderá também formar governo. A cereja no topo do bolo terá sido a vitória de Ada Colau, da plataforma Barcelona em Comú, que englobava partidos como o Podemos, o EQUO, a ICV e a EUiA, bem como vários movimentos civis. As próximas semanas, que servirão para acordar soluções de governo a nível das comunidades e dos municípios, serão um teste à capacidade da esquerda em pôr-se de acordo sobre o essencial e constituir uma alternativa à direita. E há muito em jogo. As comunidades de Castilla-La Mancha, País Valenciano e Extremadura poderão ser governadas pela esquerda, caso se consiga um entendimento entre o PSOE e as candidaturas à sua esquerda. Após um primeiro teste de convergência aprovado com sucesso, esperemos que a esquerda espanhola tenha aprendido a lição e que reaplique a fórmula na formação dos governos autonómicos e municipais. Quando se põe de lado os egos e as questões acessórias, sobra o essencial em que nos devemos concentrar. Afinal, parece que o velho provérbio estava errado e que de Espanha nos vão chegando bons ventos e bons casamentos.

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