Alegria – Sentimento de grande contentamento, que geralmente se manifesta por sinais exteriores.
A política só faz sentido se feita com alegria. Dos eleitos aos eleitores, esse sentimento de contentamento deve ser o fio condutor de toda a (inter)acção. Mesmo na tomada das decisões mais difíceis, a alegria deve ser uma constante, pois só assim se conseguirá optar pela melhor decisão. Um pouco por toda a Europa, não apenas a alegria deixou de estar presente na prática da política como, pelo contrário, lhe está associada um aspecto sombrio, cinzento e monótono. Portugal não é certamente excepção e o crescente afastamento entre os eleitos e os eleitores fez com que os termos “política” e “políticos” passassem a ser esgrimidos como insultos. Torna-se assim essencial recuperar a alegria da política, chamando de volta todos os cidadãos que dela se afastaram.
Política e cidadania são duas faces da mesma moeda. A prática política só faz sentido quando feita para os cidadãos e à cidadania está intrinsecamente ligado o direito à participação política. A separação entre estes dois conceitos, por vezes quase apresentados como antagónicos, fez com que os partidos políticos se fechassem cada vez mais e com os cidadãos e as diferentes associações da sociedade civil se afastassem dos mesmos, até quando os objectivos eram comuns. É claro que quer os partidos quer as associações não-partidárias têm um papel a desempenhar na vida de um país e a existência de ambos é uma condição sine qua non para o bom funcionamento democrático. O modo mais eficaz para combater este pensamento de silos – em que cada conceito está armazenado num local, completamente separado do outro – é promover a contaminação da política pela cidadania. Uma relação simbiótica entre ambos os conceitos, através da abertura dos partidos políticos à sociedade e do envolvimento dos cidadãos na prática política, ajudará a promover a alegria tanto na política como nos cidadãos.
As imagens que nos chegam de Espanha por estes dias são reconfortantes. Milhares de cidadãos que haviam perdido a esperança nos partidos políticos assumiram as suas responsabilidades, organizando-se em movimentos e candidaturas civis, às quais se associaram alguns partidos, cientes da importância da abertura à sociedade. O resultado foi um enorme sucesso, com algumas das principais cidades espanholas, nomeadamente Barcelona e Madrid, a ser governadas por esses movimentos. Ver milhares de pessoas na tomada de posse da nova Alcadesa de Barcelona que, originária dos movimentos civis, decidiu apresentar-se a eleições, é uma lufada de ar fresco. No seu discurso, Ada Colau referiu também a necessidade de fazer política com alegria, de modo a ser-se um melhor governante. O triunvirato política-cidadania-alegria parece pois ser uma garantia de sucesso a todos os níveis. Mais do que uma vitória da cidadania à política, os resultados em Espanha foram uma vitória da cidadania na política. Em Portugal, o caminho a seguir só pode ser o mesmo, sob pena de uma clivagem ainda maior entre a política e os cidadãos.