Não vivemos tempos bons no seio da União Europeia. Diariamente atropelam-se notícias sobre a Grécia e muitas vezes contraditórias. Enfileirados, um bando de comentadores tentam explicar o inexplicável. Querem fazer passar a ideia que o actual governo helénico é o único culpado de toda esta situação. Como se os executivos PASOK e Nova Democracia das últimas décadas não fossem os verdadeiros responsáveis pelas péssimas práticas governativas, com o consequente afundamento do país.
Simultaneamente o tridente diabólico do resgate financeiro, força mais um pacote de austeridade sobre o povo grego. Juncker apadrinha e diz que desta vez se trata de uma austeridade inteligente. Ou seja, entrelinhas acaba por confessar que as medidas que durante os últimos 5 anos foram impostas à Grécia pelos credores internacionais foram idiotas. E como reconhecimento dos próprios erros pede-se aos gregos que continuem a sufocar, sem possibilidade de crescer economicamente e condenados assim a nunca conseguirem pagar a sua dívida! Se ao menos o estado grego beneficiasse dos privilégios que muitas multinacionais tiveram/têm no Luxemburgo… Fazer da Grécia uma espécie de laboratório económico/financeiro e do seu povo as cobaias de serviço, onde se experimenta todas as receitas e mais algumas, é cruel.
Evidentemente que a solidariedade entre povos deverá ser o primeiro factor de mobilização para esta causa. Aliás, um dos princípios fundadores da União Europeia. Lê-se no Artigo I–3.º (Objectivos da União), do Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa, editado no Jornal Oficial da União Europeia C-310 de 16 de Dezembro de 2014, o seguinte excerto: “A União promove a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-Membros.”
No entanto podemos ter uma visão egoísta e só pensar no nosso bem-estar. Mas também aí é estúpido deixar cair a Grécia. A matemática aplicada do Sr. Silva diz que se subtrairmos 1 a 19, ainda restam 18 países na zona euro. Embora este raciocínio seja brilhante, não leva em linha de conta a complexidade da situação em geral, nem o efeito dominó que tal medida pioneira pode desencadear. Essa é a incógnita que temos de introduzir na equação.
Cientes do perigo de contágio, pela Europa fora os governos de vários países têm reunido de urgência, para analisar a situação grega. Da Alemanha à Espanha sucedem-se comunicados e afirmações que tentam apaziguar os mercados – esses bichos nervosos. As bolsas vacilam e os juros da dívida soberana sobem. Do mundo vêm idênticas preocupações dos E.U.A. à China.
Por cá, a maneira de lidar com esta crise é bem mais adulta. Passos tapa os ouvidos; Portas tapa os olhos; e ambos entoam a uma só voz: “Nós não somos a Grécia!”, vezes sem conta. Como se esta espécie de ladainha nos livrasse de todo o mal financeiro.
A experiência recente tem demonstrado que tal não é possível. Após a Grécia, as economias menos preparadas cairão como um castelo de cartas. Em primeiro lugar as que estão ou estiveram sobre a assistência financeira, com Portugal à cabeça. Depois muitas das que estão presas por arames. Caso se verifique a tal “Grexit”, só mesmo uma intervenção divina de Nossa Senhora de Fátima poderá salvar a União Económica Europeia de uma tragédia anunciada. Para mal de todos os que não somos crentes.