Devia parar de fumar
Gastar menos
Emigrar
O enfraquecimento da contratação coletiva e dos direitos laborais, a par da recessão económica, coloca o indivídio numa posição de fragilidade perante o mercado de trabalho.
É forte
É fraco
Inconformista
É um peso para a sociedade
Inconformado
Sei que sou capaz
Conformado
Serei capaz?
Conformista
Devia ter estudado
Só preciso de um oportunidade
É incapaz
Estudar para quê?
Grato à família
É passivo
Deve favores à família
É encostado
Que vergonha
Na tentativa de justificar a posição social em que determinados grupos se encontram, as sociedades constroem em seu redor um discurso moral do tipo “são um bando de malandros”, geralmente pejorativo no caso de grupos mais vulneráveis – pobres, desempregados, sem-abrigo, imigrantes, … – ignorando frequentemente as condições sistémicas – políticas, económicas, históricas, sociais – produtoras incontornáveis dessas vulnerabilidades.
Anda agressivo
Parece triste
Que desperdício de inteligência!
Devias ter feito antes medicina
Porque não fui para medicina?
Parece normal (estranho, não era suposto andar triste?)
A procura prolongada de emprego sem sucesso conduz frequentemente a situações de sofrimento profundo que podemos classificar de “desânimo aprendido” e cujas manifestações comportamentais são muitas vezes interpretadas como preguiça.
Devo ser mesmo burra!
Procura um estágio!
Não tem experiência
Porque não fazes voluntariado?
Antes trabalhar de graça que estar parado
Parar é morrer!
Antes morrer que trabalhar sem direitos
O ordenado mínimo parece uma fortuna
O ordenado mínimo parece um insulto
Vais ter de trabalhar de graça se quiseres entrar no mercado de trabalho…
Tens de ser ambicioso
Puta que pariu as cunhas! Estragam isto tudo!
Tens de aceitar a realidade
Ah se apanhasse uma cunha agora…
O desempregado, socializado como os restantes indivíduos num contexto de atomização social, tende a assumir padrões de atribuição internos, isto é, a assumir-se como pricipal responsável/culpado pela situação em que se encontra.
É demasiado velho
Demasiado nova
Pouco qualificado
Desqualificado
Sobrequalificada
As instituições estatais que trabalham junto dos desempregados (IEFP no caso português) adotam frequentemente uma postura autoritária, definindo-lhes direitos e, sobretudo, deveres de forma unilateral, deixando aos seus utentes uma única escolha: obediência passiva e total ou exclusão. A propósito de uma convocatória para sessão de esclarecimento, cuja falta não justificada conduz a suspensão de 3 meses do IEFP (a necessidade de reinscrição findo esse período dá à palavra “suspensão” um cunho verdadeiramente orwelliano), uma profissional do IEFP disse o seguinte: “estas convocatórias servem para atirar pessoas para fora do barco. O problema é que muitas não têm boia.”
A postura paternalista do IEFP é visível, por exemplo, na infantilização dos seus utentes. Ei-la exposta nos seguintes quadros decorativos de um dos seus Centros de Formação (Sintra):
Otimista
Anestesiado
Insolvente
É teimosa
É amado
Tem um gato
E é gente.