A perceção de uma vitória moral

Tem-se falado de uma derrota em toda a linha de Tsipras, que capitulou nas negociações com os credores e que tem agora em mãos o pior programa austeritário para aplicar na Grécia.

Assumindo a derrota, tem frequentemente faltado olhar para a outra face da mesma moeda, a vitória moral. A vitória moral de dar a conhecer uma esquerda, nomeada de radical, que com coragem confrontou, com propostas moderadas, os tecnocratas do Eurogrupo, de levar a discussão dos problemas do Euro ao Parlamento Europeu, de não ter medo da democracia, de colocar a reestruturação da dívida em cima da mesa das instituições europeias e do debate político, de tão rapidamente tornar a reestruturação inevitável, de lançar o debate sobre a revisão dos tratados e das instituições europeias… a bem do futuro da Europa da democracia, da solidariedade e do respeito mútuo.

O tempo por que muitos pró-europeistas anti-austeridade esperavam, chegou. Seria e é tempo de capitalizar o argumento defendido até aqui que identifica as reestruturações das dívidas como primeira condição para os países do sul da Europa sairem deste ciclo austeritário e empobrecedor. Seria e é tempo para propor as alterações necessárias aos tratados e às instituições europeias para refundar o Projeto Europeu.

O problema está na perceção da vitória moral e/ou na convicção europeista. A falta de perceção da brecha criada no debate político (a vitória moral de Tsipras) tem conduzido alguns anti-austeritários a centrarem o seu debate político na derrota dos Gregos, nos erros do Syriza, no abandono de qualquer esperança de uma Europa solidária e na saída da Grécia do Euro (o plano B), aquilo que Tsipras não quis e que os tecnocratas aparentemente queriam. Apesar de ser perfeitamente justificável estar cético em relação ao futuro de Portugal na Zona Euro (e de considerar um plano B), é paradoxal que alguns anti-austeritários (pró-europeístas?) tenham muitas dúvidas em abraçar a esperança associada à vitória moral de Tsipras e capitalizá-la na campanha para as próximas eleições legislativas, preferindo dedicar mais tempo a discutir em público um plano B para Portugal (parecendo, na verdade, o plano A). São exatamente as próximas eleições em Portugal e em Espanha que terão um papel decisivo numa eventual mudança de forças na Europa. Será um erro estratégico que nos próximos meses não se unam esforços, se acredite que é possível e se lute por um a mudança da União Europeia por dentro… foi essencialmente na coragem que Tsipras conseguiu esta vitória moral e que, agora, quer ficar no poder o tempo suficiente para ajudar outros governos similares a levantarem-se contra a Europa da austeridade.

Texto de César Fonseca

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