As provas do elevado impacto das actividades humanas nos ecossistemas são inegáveis. Os actores políticos não podem negar esta realidade. Para além dos impactos e consequências relativamente localizados, tais como contaminação de solos ou aquíferos, verificam-se também impactos de carácter global, com consequências para todos, independentemente da fonte de contaminação. Neste capítulo, o aumento exponencial das emissões de gases de efeito de estufa, nomeadamente o dióxido de carbono, é um dos principais responsáveis pelo acelerar das alterações climáticas.
Apesar de todas as provas, os líderes mundiais têm falhado na concretização de um mecanismo mundial que tenha como objectivo a redução das emissões globais. Após o término do período de aplicação do Protocolo de Quioto – não subscrito pelos Estados Unidos, entre alguns outros países – não se conseguiu ainda atingir um consenso na definição de um novo protocolo. Após duas tentativas falhadas nas últimas conferências das partes (COP), Paris, que albergará a vigésima primeira conferência no final deste ano, espera conseguir ficar na história e ver o seu nome associado ao mais ambicioso programa de redução das emissões a nível global. Apesar do muito cepticismo, têm surgido alguns sinais promissores, com especial destaque para a aparente disponibilidade dos Estados Unidos e da China – dois dos principais responsáveis pela poluição atmosférica – em subscrever o novo protocolo.
Sendo urgente, um novo protocolo terá apenas sucesso caso se definam metas vinculativas e mecanismos de monitorização e verificação robustos. Não adianta definir objectivos se não se puder assegurar o seu cumprimento. Portugal deve, a título individual e dentro da União Europeia, bater-se por um novo protocolo mais arrojado e que proteja efectivamente os países mais expostos aos impactos das alterações climáticas. Se é claro que Portugal sofrerá com as alterações climáticas, com particular destaque para o aumento expectável dos fogos florestais e da erosão costeira, serão os países com economias mais frágeis as principais vítimas. A obtenção de um novo protocolo que sirva para proteger os países mais pobres é assim também uma obrigação ética à qual os países desenvolvidos não podem virar a cara.
O risco de surgimento de conflitos armados devidos ou promovidos pelas alterações climáticas não é apenas uma possibilidade futura, sendo já uma realidade. Não sendo certamente a razão principal, é inegável o papel que a seca prolongada na Síria desempenhou no flagrar do conflito que deu origem à actual guerra civil. Em paralelo, e de modo a responder à demanda global de recursos, encontra-se a exploração intensiva de espécies de alto rendimento, à qual se encontra associada a destruição de vários ecossistemas, bem como conflitos com populações locais que se vêm obrigadas a sair das suas casas. A plantação de palmeiras para exploração do seu óleo na Indonésia ou a destruição da floresta amazónica para plantação de soja têm como consequências imediatas a destruição da biodiversidade e o aumento das tensões entre os cidadãos e o Estado e, a longo prazo, estão também a contribuir para as alterações climáticas, num ciclo que revela ser pernicioso. Para evitar que estes conflitos se generalizem é urgente combater desde já as alterações climáticas, o que passa também por rever o modelo de extracção de recursos que se verifica actualmente. Uma vez que grande parte destes recursos se localiza em países com economias pobres, é preciso repensar o modelo de ajuda ao desenvolvimento desses países.