É mais do que perceptível que o fazer político precisa ser revigorado e não continuado pelos mesmos dinossauros políticos que conduziram Portugal a um estado de declínio.
Foi com alguma distância que acompanhei a última eleição presidencial em Portugal, nos meus áureos anos 2011. E fi-lo porque os portugueses disseram que o presidente era considerado um mero árbitro no jogo político e eu como acredito que ninguém seja mero árbitro de coisa nenhuma, principalmente de um país que precisa responder aos desafios globais, não me interessei, pois senti que os próprios portugueses não se interessavam. Cinco anos mais tarde, vemos a mesma percepção nas ruas, contudo o meu olhar sobre as essas eleições mudou. E isto porque foi me apresentado um candidato que diz que essas eleições marcam um tempo de mudança, um tempo de cariz único, que diz não querer ser um presidente que apenas mantém o status quo das coisas, mas sim que, se for eleito, quer ser um presidente interventivo. Um candidato com vontade de mudança, apesar dos limitados poderes que lhe serão dados pela Constituição, de fato é coisa rara de ver.
António Sampaio da Nóvoa, a quem conhecia pela reputação na Universidade de Lisboa, pois foi o meu reitor, chegou a estas eleições de uma maneira tropical: Teatro da Trindade lotado, filas para entrar e um ecrã à porta para as centenas de pessoas que não puderam aceder ao limitado espaço físico do teatro. Eu estava lá e assisti de camarote – literalmente – ao seu discurso de lançamento de candidatura. Quão satisfatório foi ver um candidato inserir nos suas frases palavras como “cultura”, “igualdade de gênero”, “direitos das pessoas LGBT”, “direitos dos imigrantes”, “educação”, “mudança”, “inovação”. Palavras que muitas vezes são esquecidas pelos políticos ou utilizadas como lhes dá jeito, e foi nesse momento que notei a diferença: ele não era político. Quando no debate entre Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa, o segundo candidato referiu que Sampaio era novo na política e por isso era “virgem” nos assuntos políticos pensei comigo mesma: ainda bem que ele manteve a mesma postura desde o lançamento da candidatura até agora. Isto porque ser-se político é muito vago e se afasta da construção objetiva da política na medida que a mesma é dever cívico e não uma profissão. Reitor, professor são cargos profissionais; político não. A política é um dever dos cidadãos, uma esfera da construção social, neste sentido até um fazendeiro faz política quando negoceia a que preço venderá o seu arroz e para quem. O ser humano por si só é um ser político, por isso quando Marcelo referiu a virgindade política de Sampaio da Nóvoa, não poderia estar mais do que equivocado por dois motivos: primeiro porque atribuiu uma profissão de político que não existe concretamente e segundo porque negligenciou todas as decisões políticas que Sampaio precisou tomar enquanto reitor e enquanto professor e enquanto cidadão comum. Mas sim, ainda bem, e diriam os religiosos “glória a Zeus”, que temos um candidato sem os mesmos vícios dos políticos da atualidade e do passado, pois esses vícios parecem serem passados de geração para geração. Neste sentido, muito devemos estar satisfeitos por termos um candidato que defende um tempo novo para Portugal e fala em globalização, bem como liberdades em todas as categorias. Que diz querer ser um presidente de causas e, amigos – cá pra nós – sabemos todos que já está na hora de Portugal ter um presidente assim, pois foram 10 anos de abstinência na comunidade local e internacional com um presidente, desculpem-me os portugueses, um presidente somente focado em si próprio. Acostumados com a atitude morna (para não dizer fraca) de Cavaco Silva, é natural que Sampaio da Nóvoa desperte algum susto nessas eleições, pois deixa claro ele que não deixará tudo na mesma. E pergunto aos eleitores, de que valem eleições se não for para mudar, revigorar o sistema democrático, social e político?
Querem apostar nas pessoas que se julgam políticos profissionais nestas eleições ou será melhor apostar na mudança? Como imigrante em Portugal, diria que a aposta é mais do que óbvia por todo o contexto apresentado nos últimos anos. Ao consultar os poderes do presidente da república, constato que o presidente pode sim se bater por causas e o fato de não poder legislar não o enfraquece, pois a aprovação da legislação final é dele. A observação do cargo de presidente da República Portuguesa como um moderador é uma observação simplória do que um presidente pode fazer. Confio que Sampaio da Nóvoa poderá mostrar-nos isso. Adoraria ver, por exemplo, a presidente Dilma discutir com um presidente novo, progressista, que demonstrará na comunidade internacional o crescimento do povo português sublinhado pela escolha do seu presidente. Será o retrato do avanço das mentalidades. É mais do que perceptível que o fazer político precisa ser revigorado e não continuado pelos mesmos dinossauros políticos que conduziram Portugal a um estado de declínio. Nestas eleições estarei, finalmente (!), convosco, colocando o meu voto na urna – um privilégio dado apenas aos brasileiros através do Tratado de Amizade entre Brasil e Portugal. O meu primeiro voto em eleições portuguesas não será secreto e tal como eu, espero com todo apreço que nutro por este país e pelas pessoas deste país, que votem no novo, que votem no “candidato virgem”.