A UE no meu álbum fotográfico

No artigo publicado no passado dia 1 de Março, José Vítor Malheiros (JVM) lança um desafio aos leitores. Pede-nos o colunista que pensemos nas nossas memórias e nos eventos marcantes das últimas décadas e que contemos quantos associamos à União Europeia (UE). Num exercício de antecipação, JVM assume que nenhum desses eventos está ligado à UE, concluindo que uma vez que esta “não está associada a nada de particular e, principalmente, não está associada a nada de que nos possamos orgulhar”, “não aparece no nosso álbum de fotografias”. Pois bem, decidi aceitar o desafio e, começando no final da década de 80, quando nasci, fui olhando para o meu álbum fotográfico, tentando perceber se a UE estava realmente ausente.

Numa das primeiras fotografias que encontro, vejo-me mascarado de palhaço, com alguns brinquedos. Após um sorriso inicial e prestes a virar a página do álbum, convencido que ali não havia sequer uma tonalidade de UE, paro para reflectir. Talvez à época ainda não existisse mas, hoje em dia, aquele eu em criança estaria, graças à legislação europeia, certamente a vestir roupas devidamente fabricadas, sem o recurso a químicos perigosos. Os brinquedos na minha mão estariam, tal como as roupas, abrangidos por uma lei europeia que assegura a sua segurança. Penso que esta coincidência será apenas uma excepção à regra indicada por JVM. Continuo a folhear e vejo-me, com uns 9 ou 10 anos, em Genebra, na Suíça. Ah! lembro-me bem dessa viagem, no nosso mítico Opel Vectra (ao que parece, 3 estrelas no índice de segurança da NCAP, apoiado pela UE), de Amarante para o mundo. Viajar sem pressas e sem parar nas fronteiras. Esperem lá, agora que penso melhor, lembro-me de termos ficado parados algum tempo na fronteira entre a França e a Suíça, mas de certeza que a UE não tem nada a ver com o tema.

Passo do formato físico para o digital e vejo as fotografias que tenho guardadas no computador. Lá estou eu na universidade, a estudar as diferentes directivas, leis e regulamentos de qualidade e ambiente, a grande maioria instituída pela UE. Continuo no mundo universitário e entre uma cerveja e outra vou parar às fotos do meu Erasmus. Lituânia! Quem diria que algum dia iria viver num dos Estados Bálticos (se bem que para a minha avó estive sempre na Rússia). As fotos sucedem-se: Polónia, Letónia, Estónia, fartei-me de passear e sem parar em fronteiras, excepção feita à Bielorússia, claro, pois está fora de Schengen e da UE. Tantas caras e tantas recordações, tantos Amigos (assim mesmo, dos de maiúscula) espalhados pelos quatro cantos do continente e que só pude conhecer graças à bolsa do Erasmus.

Terminados os estudos, o trabalho. Em primeiro lugar, au pair em Paris, para onde fui de um dia para o outro. E pensar que, nos anos 60, os meus avós tiveram que mover mundos e fundos para fazer esta mesma viagem. Depois de Paris, Bruxelas, o primeiro estágio “a sério”. Não fosse a bolsa do programa Leonardo da Vinci e, muito provavelmente, nunca o poderia ter feito. Segue-se Milão, Parma e novamente Bruxelas. Felizmente só preciso de fazer a minha declaração de rendimentos no país em questão uma vez que, também graças à UE, os Portugal tem acordos de troca de informação com estes parceiros.

Bem, devo mesmo ser um caso especial pois, para onde quer que olhe parece-me que vejo a UE e, quase sempre, pelos bons motivos. Arriscando também um prognóstico, acho que se os leitores da minha geração fizerem este exercício, as conclusões serão semelhantes. Poderíamos também analisar os acontecimentos históricos – pegando no exemplo da Malala Yousafzai referido por JVM, bastaria dizer que antes do prémio Nobel, venceu o prémio Sakharov do Parlamento Europeu – mas acho que as histórias de cada um de nós, europeus, servem para mostrar que a UE é uma constante nos nossos álbuns fotográficos.

Agora, enquanto oiço a nona de Beethoven, espero que a minha companheira, não portuguesa e que conheci enquanto trabalhava em Portugal graças às facilidades criadas pela UE, chegue a casa. Será melhor ir adiantando o jantar mas estou sem grande inspiração. Uma coisa, no entanto, é certa, será algum produto devidamente rotulado como sendo de agricultura biológica (bolas outra vez a UE e o seu trabalho ao barulho). Com a data do meu aniversário a aproximar-se vou também pensando em quem convidar para a festa. A UE, essa, não será certamente necessário convidar pois comigo sabe que pode sempre sentir-se em casa, tal como eu me sinto em casa nela.

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