Parecia inevitável. E, ao mesmo tempo, parecia impossível. As casas de apostas colocavam Portugal longe do título e três empates na fase de grupos deixavam antever o pior. Por outro lado, havia uma certa confiança que abraçava os jogadores e Fernando Santos, o tal que dizia que voltaria a casa apenas no dia 11 de Julho. Até o meu pai, sempre tão lesto na profecia de desgraças e a pessoa mais céptica que conheço, dizia que era desta. O próprio universo parece ter-se organizado de modo a facilitar-nos a vitória. E depois, fez-se história.
A selecção nacional esteve (muito) longe de praticar o futebol bonito ao qual nos habituou num passado recente; mas foi sempre um grupo unido e foi sempre nessa união que esteve o nosso segredo. Deste Europeu, levaremos como grandes jogadas os golos de calcanhar e de cabeça de Cristiano Ronaldo, o golo de Éder e pouco mais. Mas como grandes acções levaremos muito mais. O “se perdermos que se foda”, o Pepe a vomitar na final, os penteados de Quaresma, a confiança de Fernando Santos, o treinador-adjunto Ronaldo e tantos, tantos outros. Ah, recordo cada um destes momentos e não evito o sorriso que me sai automaticamente.
Não sabia que se podia ficar tão feliz com uma vitória num jogo de futebol. Sendo adepto do FCP, não me faltaram vitórias, incluindo a nível internacional e com várias delas celebradas no estádio, mas nunca fiquei tão contente como no domingo à noite. As lágrimas, essas, continuam a ser um exclusivo para o meu Amarante FC que, também esta época e pela primeira vez, me fez chorar de alegria por um jogo de futebol.
Esta foi a selecção que melhor representou o espírito do país: se é verdade que as coisas não iam correndo mal, também é verdade que não iam correndo bem. E há lá alguma coisa mais portuguesa que o “vai-se andandismo”? Esta foi também a vitória de um Portugal plural, cosmopolita e aberto aos imigrantes, com o melhor jogador em campo na final nascido no Brasil e com o marcador do golo (obrigado Éderzito!) nascido na Guiné-Bissau.
E tudo isto é apenas futebol. Mas é tudo tão mais do que futebol. É paixão, é aquela irracionalidade a que todos temos direito, é sonhar que podemos ser maiores do que somos, é errar, é chorar, é rir, é resistir, é ganhar e é perder. É a vida e é viver. Ainda hoje, de cada vez que revejo o jogo entre Portugal e Inglaterra no Euro 2000, cerro os punhos em sinal de alegria a cada um dos três golos portugueses desse evento mítico. Graças a esta vitória, não terei que rogar pragas ao Griezmann durante décadas, como o pai teve que rogar ao Platini. Por isso e pela alegria que nos deram, um muito obrigado.
PS: Não sei se é hábito dar uma alcunha à selecção durante um campeonato da Europa mas, caso seja, proponho que esta equipa seja apelidada de “Os vai-se andando”. Ou então apenas “Os portugueses”. É tudo o mesmo, ao fim e ao cabo.
Gosto e partilho do sentimento 😉
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