Islão, essa coisa do outro mundo

Viver num país maioritariamente católico e com uma população de interações pouco expressivas com comunidades islâmicas proporcionou-me ao longo dos anos algumas experiências pessoais do desconhecimento semi-generalizado dos portugueses em relação às especificidades da religião praticada por muçulmanos. Mas também é verdade que estão longe de ser mal intencionados e quando me perguntam que religião pratico depois de saberem que sou natural de um país falante de língua árabe, sei que morrem de curiosidade pela minha cultura e a dos meus pais (seria errado partir do princípio de que todos os árabes são muçulmanos).

Mas já não consigo demonstrar a mesma simpatia por pessoas que são convidadas a comentar notícias da atualidade em programas de informação e deveriam ter o bom-senso de não se aventurarem em terrenos difíceis. Porque só se enterram e enterram e enterram e cabe-nos a nós a infelicidade de ter que testemunhar esses momentos embaraçosos. Já nem falo na responsabilidade que cabe à comunicação social que, com demasiada frequência, nos insiste em brindar com comentadores espectacularmente ignorantes. O Islão não é assim tão difícil de entender para quem queira ter a disponibilidade de passar algumas horas a ler sobre o assunto e ganhar noções básicas sobre as suas origens e os vários grupos que o compõem.

Se este post é motivado pela má prestação da Marisa Moura sobre o Islão —  O terceiro califa era o Ali (não, era o quarto) que é aquele senhor dos palácios das histórias dos príncipes das Arábias e da riqueza…errr… absurda, ele andava a combater… errr… (ao que o jornalista Paulo Nogueira mete a piada “era o Citibank da altura”); Maomé era um comerciante que se indignou, como nós hoje nos indignamos, com os agiotas que são pessoas, enfim — é também motivado por um desejo de afirmar que, quando abrimos as portas para o Islão, descobrimos uma das histórias mais complexas e fascinantes do mundo civilizado. É recheada de glórias e tragédias, de sucessos e fracassos, de infâmias mas também um desejo desesperado da parte de muçulmanos de atingir a unidade com Deus e paz.

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