Quando em 2008 me surgiu a hipótese de, ao abrigo do programa Erasmus, passar um semestre no estrangeiro, não tinha propriamente um destino preferencial. Tinha uma pequena preferência pela Turquia mas, acima de tudo, aquilo que queria era um país culturalmente diferente de Portugal. Não estando a Turquia na minha lista de possibilidades, a Lituânia acabou por se tornar na escolha óbvia e, assim, aterrei no maior dos países Bálticos em Agosto de 2008, com um desconhecimento profundo do país.
A transição de 2008 para 2009 foi um período excepcional para estar na Lituânia, por várias razões. Em termos económicos, o país vinha de 9 anos de crescimento acentuado, o que lhe valeu a alcunha de tigre do Báltico, tendo, no entanto, o PIB caído abruptamente (mais de 15%) em 2009. Havia alegria e orgulho pelo facto de Vilnius assumir o título de capital europeia da cultura em 2009 e havia apreensão com desafio de encontrar alternativas à central nuclear do país, a ser forçosamente encerrada no final desse mesmo ano – a central nuclear de Ignalina é semelhante à de Chernobil e o seu encerramento foi uma das condições para o acesso da Lituânia à União Europeia. Note-se que esta central fornecia cerca de 70% da energia eléctrica do país e que as alternativas passariam – e passam – pela compra de electricidade à Rússia, nem sempre aos preços mais justos e levantando, uma vez mais, medos em relação à soberania do país.
Seis meses permitem pouco mais que uma pequena incursão na cultura e vida de um país. No entanto, se houve um sentimento que pude experimentar foi o do pró-europeísmo dos lituanos e a vontade em fazer parte de tudo o que possa ser associado à “Europa” – aqui claramente em oposição à Rússia. Foram inúmeras as vezes que escutei, sobretudo vindo dos mais novos, afirmações sobre a pertença à União Europeia, quase como num exercício de auto-convencimento. Estes comentários transmitiam por um lado orgulho e, por outro, alívio, como se os lituanos acabassem de trilhar um longo caminho que culminou com a pertença completa à “Europa”.
A entrada da Lituânia no grupo dos países que utilizam o Euro como moeda não é uma surpresa. Estando a Lita indexada ao Euro desde 2002 e após uma tentativa falhada em 2007, a adesão da Lituânia à zona euro a partir de 2015 representa o culminar de todo este processo de aproximação do país às instituições europeias. Como europeísta, espero que esta nova adesão sirva para relembrar que pertencer e ajudar a construir uma Europa mais unida e solidária deve ser uma prioridade para todos os países.
*Bem-vinda, Lituânia
